Gostaria de carinhosamente convidar os leitores para compartilharem comigo, neste espaço, algumas reflexões sobre inclusão e sobre acessibilidade. Juntos, vamos construir um caminho em que trocaremos ideias e experiências, as quais espero que sejam úteis e transformadoras!
Quero colocar, logo ao princípio, uma ideia que considero muito importante! Posso resumi-la em uma só frase:
As pessoas com deficiência não são a priori pessoas especiais!
Por engano, se utiliza o adjetivo “especial” como sinônimo da expressão “com deficiência”. Infelizmente, ainda é usual referir-se a alguém que tenha alguma deficiência como alguém especial!
Esse equívoco tem origem no uso dos já ultrapassados termos Pessoas com necessidades Especiais, e Portadores de Necessidades Especiais.
Vou deixar para outra oportunidade as referências históricas sobre as terminologias, não entrando aqui no mérito desta questão.
Proponho, desta vez, pensarmos sobre o que significa ser especial. Alguém é especial por ser muito querido e amado pelos seus familiares e amigos, ou por irradiar, em suas atitudes, uma chama de paz e de bondade. Nesse sentido, ninguém é especial por motivo de deficiência! A deficiência não é um atributo que, por si mesmo, torna alguém especial.
Ninguém é especial por não enxergar, por não ouvir, por ser cadeirante ou por ter deficiência intelectual. São as características relacionais de uma pessoa que a qualificam com este adjetivo.
É então preciso dissociar o “ter deficiência” do “ser especial”, pois além de esta associação ser equivocada, o uso do termo “especial” com esta conotação pode representar discriminação e preconceito. É como se a pessoa com deficiência ganhasse um título de “boazinha” e de “admirável”, uma denominação que oscila entre o “herói” e o “coitadinho”, e que se traduz genericamente com a qualidade “especial”. Ao invés de a deficiência ser considerada como uma condição objetiva e como uma característica do indivíduo, ela é encoberta por eufemismos e subterfúgios.
Vamos então a algumas consequências práticas deste equívoco! Espera-se que uma mãe veja todos os seus filhos como especiais, de maneira equitativa. Se ela se refere a seu filho com deficiência como “especial” (isto é, como amado, querido, etc), deve se referir aos outros irmãos da mesma forma! Caso contrário, ela atribuirá aos filhos uma diferenciação que não existe, e que vai ser desastrosamente reforçada pelas outras pessoas ao redor! Nenhum filho com deficiência quer carregar o peso de que se faça dele um filho especial!
Assim também, se uma professora diz que em sua turma há alunos especiais, ela deve estar se referindo a todos os alunos e não apenas a alguns selecionados por ela!
Nos dois casos quem leva a pior, claro, é a pessoa com deficiência, que se torna injustamente estigmatizada por esta idealização. Ninguém merece isso, não é
Já passou da hora de abandonarmos estas atitudes discriminatórias. A deficiência, como já apontei acima, é tão somente um atributo da pessoa, e isso não tem nada a ver com seu modo de ser nem com seu caráter!
Por Fabiana Bonilha – Integrante do Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA), vinculado ao CTI (Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer). Colunista da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC). Doutora e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes da UNICAMP. Graduada em Psicologia pela PUCCAMP e em Piano Erudito pela UNICAMP.