Segunda gravidez. Susto, parto prematuro. Uma menina tão pequenininha. Incubadora. Luta pela vida. Muita ansiedade e muitas preocupações.
Depois de dois meses meu bebê pôde ir para casa. Excesso de cuidados. Um mamada demorava horas, pois o leite precisava ser retirado, colocado na chuquinha para que a minha menina conseguisse mamar. A banheira era um mar diante daquele ser tão pequeninho. Tantos cuidados. Tantas aflições.
Devagar ela foi ganhando peso, desenvolvendo-se a contento. Mas alguma coisa não estava bem. Quando eu sorria para ela, ela não me respondia. Visita ao pediatra que recomendou um oftalmologista. Diagnóstico duro, dado sem a mínima sensibilidade. O excesso de oxigênio da incubadora teria causado uma lesão na retina, minha menina não enxergava e nunca iria enxergar.
E agora? Eu nunca tinha tido contato com pessoas cegas. Só me lembrava, na minha infância, de um sanfoneiro tocando na rua Treze de Maio, esperando que alguém colocasse uma moeda numa latinha e de uma mocinha cega que vinha de porta em porta, de braços dados com outra garota, pedir contribuição para o Lar das Moças Cegas, uma instituição beneficente. Que grande desafio eu iria enfrentar!!!! Meus conhecimentos de “ser mãe”, vividos com meu primeiro filho, precisariam ser repensados, reorganizados.
Em uma das minhas conversas com Nossa Senhora, ela me disse que eu havia sido escolhida por um anjo especial para que eu o ajudasse a ser feliz. E esse passou a ser meu propósito. Sair da zona de conforto e achar caminhos para fazer da minha filha uma pessoa, forte, batalhadora, independente das “pedras” que surgiriam no meio do caminho. Ir em busca de ajuda, de pessoas que pudessem me auxiliar nessa missão. E quantas delas eu encontrei…
Os catequistas, quando se sentam com suas crianças para falar de Deus, devem ter a percepção que eles são auxiliares dos pais na construção de um caminho feliz para aqueles anjos ali na sua frente. Ensinar aos pequeninos que existe um Deus que zela por eles e que está sempre a seu lado os ajudará a enfrentar obstáculos com mais segurança e determinação.
Embora o médico e educador Içami Tiba, recentemente falecido, diga que os pais não dão felicidade aos seus filhos – porque ninguém pode dar felicidade a outras pessoas, nem os pais aos próprios filhos –, eles podem indicar caminhos para que seus filhos aprendam a ser felizes. Na minha experiência pessoal, aprendi que a religiosidade foi um deles.
Vera Lúcia Fator Gouvêa Bonilha. *Graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. *Foi professora de Língua Portuguesa e Literaturas brasileira e portuguesa do Instituto Educacional Imaculada. *Atualmente atua como revisora de textos.