Todos nós gostamos de conviver com nossos semelhantes. Se formos adeptos à praticar esportes normalmente, seremos atraídos por pessoas com a mesma preferência, se pendemos para o lado literário e gostamos de ler, queremos ter ao nosso redor pessoas com o mesmo hábito para trocar ideias e contar o que lemos.
Sempre foi assim, nos sentimos melhores e aprendemos muito com nossos pares. As crianças não são diferentes. Mesmo titubeando ao andar e usando pouco a expressão verbal a criança também sente necessidade de conviver com seus pares, isto é, com outras crianças que possuam o mesmo interesse. O ideal é crianças brincarem com crianças da mesma faixa etária.
Às vezes converso com mães que relatam ficar horas brincando com seus filhos e nesse momento se tornam crianças, o que é muito saudável e importante para o desenvolvimento da mesma. Porém, a necessidade continua, a criança precisa ter esse exercício social. Relacionando-se com outra criança ela amadurecerá, aumentará seu vocabulário, buscará estratégias para lidar com situações novas e seu desenvolvimento social, emocional e cognitivo serão altamente estimulados. Sem contar que o aprendizado durante sua infância será carregado pelo resto da vida.
Outro dia li um e-mail que fazia um paralelo entre o jardim da infância e a vida profissional e emocional do ser humano e conclui que se resolvêssemos as coisas com a praticidade de uma criança a vida seria mais leve.
Pensando neste texto resolvi traçar alguns paralelos sobre as ações das crianças frente às situações do dia – a – dia, comparando-as com atitudes de um adulto e suas consequências.
Se uma criança quer o brinquedo da outra, ela automaticamente vai buscar estratégias mentais para alcançar o que quer. Quando adulto, se eu quero algo tenho que planejar como consegui-lo e vou a busca de experiências adquiridas para elaborar estratégias e planejar como alcançar meu objetivo. Isso pode acontecer de muitas maneiras:
* A criança pode ficar apenas olhando o brinquedo do amigo e sentindo muita vontade de brincar com ele, manuseá-lo e imaginar o prazer da conquista. Se ela não for estimulada por um adulto a dar o primeiro passo, e ir a busca de seu objetivo, vai passar a vida olhando o que quer, e quando se tornar um adulto não saberá tomar decisões e nunca tomará iniciativa para alcançar seus objetivos.
* A criança pode simplesmente arrancar o brinquedo da mão do amigo e sair correndo. Nesse caso também, a interferência do adulto é salutar. Ele conversará com a criança e orientará para que ela peça as coisas aos outros e não simplesmente arranque da mão dos amigos. Se ela conseguir alcançar seus objetivos desta forma, desde pequena, quando adulto fará o mesmo.
* Outro modo que a criança tem para conseguir seu brinquedo, é bater, morder ou empurrar o amigo que o possui, pois dessa forma o amigo se sentirá intimidado entregando-lhe o brinquedo. Neste caso, cabe ao adulto orientar a criança que dessa forma o amigo não emprestará o brinquedo e que o mais certo, é pedi-lo. Porém, se essa criança faz uso da força para conseguir o que quer, quando adulto sofrerá muito, pois sempre encontrará alguém mais forte e poderá sofrer consequências.
* A criança também pode optar pela troca, você me empresta seu brinquedo e eu faço o mesmo. Desse jeito, ela perceberá que o mesmo cuidado que ela deve ter com o brinquedo do amigo, ele deverá ter com o dela. Quando adulto respeitará mais o que é do outro, sabendo negociar com mais facilidade seus desejos e conquistas.
Essas situações não ocorreriam se um pai brincasse com seu filho, pois nenhum adulto irá disputar um brinquedo com uma criança, ou agirá de forma impulsiva nessa relação. Já a criança age muito de forma impulsiva, o que é saudável, pois aguça sua inteligência e a faz mais criativa, pensante e ativa dentro de um contexto social.
O melhor lugar para que a criança exerça seu papel é a escola. Lá as crianças são agrupadas por faixa etária e os interesses são semelhantes, as brincadeiras são adequadas e os estímulos constantes.
A vivência e o brincar são fontes inesgotáveis de possibilidades de crescimento.
Por isso, deixe seu filho conviver mais com crianças, trocar experiências e se arriscar mais. Com certeza ele será um adulto melhor e saberá lidar com as diferentes situações do dia a dia.
Por Débora Corigliano é mãe de dois filhos, Psicopedagoga, Autora do livro Orientando Pais, Educando Filhos, Palestrante e especialista em Orientação Familiar. Atende em seu consultório crianças e adolescentes com dificuldades escolares e comportamentais além da orientação ao pais e educadores. Realiza assessoria pedagógica em escolas. Participa semanalmente do Programa Nossa Gente na Rádio Brasil, sempre falando sobre harmonia familiar.