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Dando asas à criação

Quando vamos receber uma visita, nós nos esmeramos, ao máximo, para que ela seja bem acolhida. Procuramos colocar a nossa casa em ordem, colocamos flores nos vasos, pensamos no que iremos servir, se aquela pessoa tem restrições de alimento. Enfim, nos certificamos de que tudo sairá perfeito. Se não conhecemos muito bem a visita que receberemos, o nosso cuidado ainda é maior.

Acredito que com os catequistas aconteça a mesma coisa. A cada domingo, eles recebem os pequenos ­– crianças nem sempre já conhecidas – em seus encontros. Para que a acolhida seja perfeita, eles pensam em tudo. Leem com esmero as leituras daquela missa, pensam na melhor estratégia para comunicá-las às crianças, escolhem as palavras a serem usadas, “bolam” atividades prazerosas.

Suponhamos que, dentre as crianças que vivenciarão os encontros, haja alguma com deficiência visual. Será que as estratégias organizadas contemplam também esse público? Lembremos que a deficiência está no ambiente e, não, na pessoa. Uma criança cadeirante não conseguirá subir uma escada, mas se ela se transformar em uma rampa, a coisa muda. O que estava inadequado? O ambiente ou a criança?

É fundamental que o catequista não seja “pego de surpresa”. Pensar as estratégias tem de contemplar qualquer criança que venha participar do encontro. Como tornar acessível aquele desenho que deve ser pintado? Basta contorná-lo com cola plástica ou com barbante colado. Posso falar das cores? Por que não? Nesse caso, as associações ajudam muito. Lantejoulas, miçangas, botões são grandes aliados. Cabe ao catequista pensar e deixar a sua criatividade florescer. Muitas vezes uma atividade criada para uma criança com deficiência torna-se muito mais atrativa para todas as demais crianças. A atitude de sair da mesmice favorece a todos.

Jamais as crianças com deficiência visual devem ser excluídas das atividades, pois não se saber como adequá-las a elas. Jamais se proporá a elas atividades diferentes das demais. “A inclusão implica mudança de paradigma, de conceitos e posições, que fogem às regras tradicionais do jogo educacional, ainda fortemente calcadas na linearidade do pensamento” (Mantoan).

Portanto, cumpre pensar na possibilidade de, no grupo, haver uma criança com deficiência, dar asas à criatividade e buscar alternativas para incluí-la nas atividades. “Imaginamos o que desejamos, queremos o que imaginamos e, finalmente, criamos aquilo que queremos” (Shaw).

Vera Lúcia Fator Gouvêa Bonilha. *Graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. *Foi professora de Língua Portuguesa e Literaturas brasileira e portuguesa do Instituto Educacional Imaculada. *Atualmente atua como revisora de textos.

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